Tem gente que sonha com Paris. Outros fazem planos para Cancún, Nova York ou Fernando de Noronha. Mas e se, no fim das contas, o verdadeiro destino for o próprio aeroporto?
Calma, eu explico:
Era para ser só uma escala. Duas horinhas entre um voo e outro, nada demais. Um café, uma passada rápida pelo duty free, talvez um cochilo torto em cima da mochila.
Mas eis que o painel muda. Voo atrasado. Depois, cancelado. E aí, de repente, você está morando no portão 42B. E isso, meus amigos, é quando tudo começa a acontecer.
O aeroporto, esse território suspenso entre partidas e chegadas, é um universo paralelo onde as regras do tempo e do espaço parecem brincar com a lógica.
Há gente vindo de todos os cantos, todos os sotaques, roupas de clima errado, fuso horário no rosto e um certo desespero elegante nos olhos. As malas têm rodinhas, mas as histórias não.
Essas ficam pelo caminho, se espalham pelos assentos de espera, pelos banheiros limpos demais, pelas filas da lanchonete onde um misto quente custa o preço de um almoço completo.
E como tem história:
Na sala de embarque, a senhora japonesa que não falava uma palavra de português me ofereceu um doce embalado como presente. Achei que fosse uma gentileza. Comi. Era wasabi. Ela gargalhou. Rimos juntos, embora nenhum de nós soubesse dizer exatamente por quê.
Numa fila infinita para remarcar a passagem, conheci um argentino que largou tudo para virar músico de rua na Europa. Tocava um violão meio desafinado, mas contava histórias como quem tem o dom.
Ele me disse que os aeroportos são como confessionários modernos. “As pessoas estão sempre deixando algo para trás”, ele falou, “então se abrem mais do que deviam.” Nunca mais o vi, mas às vezes ainda ouço aquele violão mentalmente toda vez que o embarque atrasa.
Teve também o casal que se conheceu numa conexão em Guarulhos e jurou que era o destino. Se casaram dois anos depois, em um saguão de aeroporto, com padrinhos de várias nacionalidades e buffet servido nos carrinhos de bordo. Dizem que o piloto que conduziu o voo da lua de mel discursou no microfone da cabine. Verdade ou lenda urbana? Quem se importa?
Crianças correndo entre malas, tentando transformar aquele chão cinza em pista de corrida. Pessoas dormindo abraçadas em mochilas, como se tivessem ali todo o conforto do mundo. Pessoas que choram — de alegria ou de tristeza — na frente das esteiras, como se as malas carregassem os sentimentos mais pesados.
E você? Já reparou como o aeroporto é um espetáculo constante de emoções? A despedida com o abraço demorado, os olhos vermelhos de quem vai e de quem fica. O reencontro com direito a salto, grito e choro de novela.
A surpresa do amigo que não avisou que vinha. O pedido de casamento no portão de embarque. O telefonema urgente no meio da madrugada. A risada solta de quem não vê a hora de chegar.
Tem um tipo especial de magia nos aeroportos. Neles, todo mundo está esperando alguma coisa — um avião, uma pessoa, um novo começo. E nessa espera, mesmo que a gente ache que não está indo a lugar algum, sempre está.
Às vezes, o destino não é aonde a gente chega, mas onde a gente se transforma. E o aeroporto, esse não-lugar que é todos os lugares ao mesmo tempo, pode ser cenário de tudo: romance, drama, comédia, suspense. Basta estar atento.
Na próxima vez que você se irritar porque o voo atrasou, tente respirar fundo e olhar em volta. Pode ser que você esteja no lugar certo, na hora certa. Talvez ali, naquele banco de metal desconfortável, entre um embarque e outro, esteja a história mais curiosa da sua viagem — ou até da sua vida.
Afinal, quem disse que o destino precisa ter praia, monumentos ou cartões-postais? Às vezes, o destino é o próprio aeroporto. E tudo bem.
Pode não ter sido o que você planejou, mas é ali que a vida está acontecendo.
Quem nunca prestou atenção aos detalhes e a tudo o que acontece num aeroporto entre um embarque e outro está perdendo grandes histórias, momentos inesquecíveis para alguém, basta olhar para os lados!
E tem ainda os curiosos (como eu) que sempre que inaugura um aeroporto novo fica louco para conhecer e ver as novidades, ou até uma reforma, vai que mudou alguma coisa né?
E você tem muitas histórias de aeroporto para contar? Quer dividir? Só me enviar que compartilho por aqui, vamos adorar.
Um excelente final de semana a todos!
Grande abraço 😊
Selma Cabral
Selma Cabral- Diretora e Consultora de Turismo e Eventos na Empresa Turismo & Ideias e Colunista e Mentora para Negócios no portal Conteúdo e Mais.