Olá meus leitores conteudistas. Ontem o conclave finalmente escolheu o novo papa. E como toda boa coincidência deve ser celebrada com um pouco de cinema, achei fortuito — palavra bonita para “oportuno” — trazer uma lista de filmes que têm como pano de fundo o ambiente da Igreja Católica.
Há algo fascinante nesse cenário. Talvez seja o silêncio cerimonial, os corredores de pedra, as batinas que arrastam no chão como em coreografias discretas, ou talvez o contraste eterno entre fé e dúvida. A verdade é que o ambiente católico tem inspirado cineastas ao redor do mundo com histórias que vão do sagrado ao profano, do mistério ao escândalo, passando por momentos de profunda espiritualidade e, claro, aquele drama humano que todos nós conhecemos muito bem — padres com crises, freiras em conflito, e até exorcistas em campos de batalha invisíveis.
A seguir, uma seleção caprichada para quem gosta de bons roteiros e enredos envolventes — com cheiro de incenso, gosto de vinho litúrgico e, em alguns casos, sustos dignos de um “Ave Maria” urgente.
1. O Nome da Rosa (1986)
Um monge franciscano com cérebro de detetive e olhos de águia (Sean Connery) tenta resolver uma série de mortes misteriosas num mosteiro medieval. Tudo isso com um jovem noviço que, cá entre nós, parece mais interessado em experimentar o mundo que em rezar vésperas. Um suspense histórico e denso, mas cheio de charme – especialmente se você gosta de livros, bibliotecas secretas e monges com cara de vilões.
2. Dúvida (2008)
Com Philip Seymour Hoffman e Meryl Streep em atuações absolutamente afiadas, este filme é uma aula de tensão moral. Um padre é acusado de conduta imprópria por uma freira que parece ter sido treinada pela Inquisição (e talvez tenha gostado). O mais impressionante é que a dúvida — essa coisa tão humana — se torna o personagem principal. E o espectador? Fica ali, entre um julgamento e outro, tentando decidir se acredita ou não. Um filme excelente.
3. Em Nome de Deus (2002)
Três jovens irlandesas são enviadas para conventos dirigidos pelas Irmãs da Misericórdia. Só que misericórdia aqui é uma palavra que ficou esquecida no dicionário. Um drama pesado, baseado em fatos reais, que denuncia os abusos e a hipocrisia em instituições que deveriam proteger. Não é fácil de assistir, mas é necessário.
4. Spotlight: Segredos Revelados (2015)
Baseado na investigação real do jornal Boston Globe, o filme mostra como jornalistas destemidos enfrentaram uma das maiores instituições do mundo para expor um dos maiores escândalos de abuso sexual da história moderna. É sóbrio, bem conduzido e sem melodrama — o que o torna ainda mais impactante.
5. Dois Papas (2019)
Imagine o Papa Bento XVI (Anthony Hopkins) e o então cardeal Bergoglio (Jonathan Pryce) sentados num jardim tomando uma Coca-Cola e conversando sobre renúncia, futebol e o futuro da Igreja. Parece absurdo, mas é justamente essa humanidade que dá força ao filme. Um retrato íntimo e surpreendentemente divertido do momento mais delicado da Igreja nos últimos anos.
6. O Exorcista (1973)
É impossível fazer uma lista dessas e não incluir o clássico do terror católico. Sim, ele é sobre demônios, mas também é sobre fé, sacrifício e a luta entre o bem e o mal — o tipo de luta que todo bom católico conhece bem, mesmo que em versões menos barulhentas. E cá entre nós: nunca mais olhei para uma cama tremendo do mesmo jeito. Já escrevi sobre o filme aqui.
7. O Grande Silêncio (2005)
Este documentário é um poema em imagens. Sem narração, sem trilha sonora, ele nos convida ao cotidiano dos monges cartuxos nos Alpes franceses. Um filme para ser sentido, não apressado. Ideal para ver com o celular no modo avião e o coração no modo contemplativo.
8. O Código Da Vinci (2006)
Polêmico, exagerado, conspiratório… e divertido. Baseado no best-seller de Dan Brown, mistura arte, teologia e perseguições em igrejas históricas. Não é para quem busca precisão histórica ou teológica, mas sim para quem gosta de um bom thriller com padres misteriosos e símbolos antigos.
9. Silêncio (2016)
Do mestre Martin Scorsese, essa é uma história dolorosa sobre missionários jesuítas no Japão do século XVII. Um épico espiritual que nos obriga a pensar sobre o silêncio de Deus em tempos de sofrimento. É denso, sim, mas belíssimo.
10. As Sandálias do Pescador (1968)
Um papa fictício (mas com uma vibe bem realista) lida com crises geopolíticas e dilemas morais. Um filme com um pé no Vaticano e outro no cenário internacional da Guerra Fria. Envelheceu bem, como vinho de missa.
11. O Crime do Padre Amaro (2002)
Um jovem padre chega ao interior do México e se envolve com política, corrupção e uma jovem paroquiana. O filme causou escândalo em muitos lugares, mas é um retrato nu e cru (às vezes literalmente) das contradições entre desejo, poder e fé.
Esses filmes mostram que a Igreja Católica, com toda sua tradição milenar, é também um palco dramático por excelência — cheio de personagens complexos, tramas morais e mistérios que nem sempre se resolvem com rezas.
Se você ficou com alguma dúvida ou quer indicar algum outro título, deixe aí nos comentários. E, claro, se gostou do texto, curta. Ajuda muito o colunista aqui a continuar produzindo com fé e café.
Por fim, uma breve reflexão: “leitores conteudistas” é um bom nome? Sinto um certo carinho pelo termo, mas estou aberto a sugestões. Aceito votos nos comentários. Afinal, o conclave já acabou, mas a nossa conversa continua.
Até o próximo texto!
