Continuo minha exploração do livro Som Saúde – Magnetismo e Força, onde no capítulo 09 os autores apresentam o som como uma manifestação de energia vibracional ordenada, com potencial terapêutico e transformador.
Som é mais do que uma experiência auditiva: é um campo de influência que pode harmonizar o corpo, expandir a mente e nutrir o espírito. O som “inteligente” – como um canto afinado, um instrumento musical bem tocado, ou mesmo os sons da natureza – é percebido como estruturado, com propósito e coerência.
Já o ruído, segundo Halpern e Savary, é uma vibração dissonante, desorganizada, que muitas vezes se apresenta de forma aleatória ou agressiva. Ruído é qualquer som que não está alinhado com nosso estado de espírito ou que interfere no nosso equilíbrio fisiológico e emocional. Ele não possui um padrão agradável, e muitas vezes atua como um invasor sensorial. Diferente do som musical, o ruído é percebido como interferência, ele cansa, dispersa e, com o tempo, pode causar danos sutis, mas profundos, à nossa saúde mental e energética.
Quando o Ruído Também é Música
A maneira como reagimos ao ruído tem influência direta sobre seu impacto em nós. O mesmo som pode ser classificado como ruído ou música, dependendo de quem ouve e do contexto em que está inserido. Nossa atitude em relação ao ruído determinará se seremos afetados negativamente ou conseguiremos neutralizar sua influência. Uma batida eletrônica em um festival pode ser revitalizante para alguns, mas causar exaustão e irritabilidade em outros, especialmente se não for voluntariamente apreciada. O que define essa diferença é o nosso estado emocional, nossas crenças, nossa história sonora.
Outro ponto importante é o nível de controle que temos sobre o ambiente sonoro. Quando somos expostos a sons que não podemos evitar nosso nível de estresse tende a aumentar. Em contraste, quando podemos escolher ou modular o que ouvimos, mesmo sons intensos podem ser toleráveis. A chave está em perceber o quanto estamos em sintonia com o som ao nosso redor, e quanto dele é imposto. Desenvolver essa consciência é fundamental para manter nossa saúde sonora em equilíbrio.
Ruído e Doença Mental
Estudos confirmam o que Halpern e Savary já sinalizavam: a exposição contínua ao ruído está associada a um aumento significativo de distúrbios psicoemocionais. O ruído crônico pode sobrecarregar o sistema nervoso, provocar irritabilidade e até desencadear quadros de ansiedade e depressão. O cérebro humano é sensível à sobrecarga sensorial, e o excesso de ruído cria um estado de alerta constante – um gatilho permanente para a liberação de cortisol, o hormônio do estresse. Essa hiperatividade do sistema de defesa acaba esgotando nossas reservas emocionais e afetando a clareza mental.
Além disso, o ruído pode dificultar ou impedir momentos de introspecção, silêncio interior e reconexão emocional. A ausência de pausas sonoras impacta o sono, a memória e até a criatividade. Em contextos urbanos especialmente, o ruído ambiental é considerado um dos maiores poluentes invisíveis. Ao contrário da poluição visual ou atmosférica, o ruído é muitas vezes negligenciado, embora seus efeitos sejam profundamente debilitantes. O silêncio, quando cultivado intencionalmente, é uma forma de restauro mental e espiritual que está se tornando cada vez mais rara e necessária na sociedade contemporânea.
Ruído e Comportamento Antissocial
O ruído não afeta apenas nossa saúde mental, mas também nossa convivência social. Em ambientes barulhentos, nossa paciência tende a diminuir, o que pode nos tornar mais agressivos, intolerantes e reativos. Comunidades expostas a altos níveis de ruído registram mais casos de conflitos interpessoais, vandalismo e comportamentos antissociais. Quando os sentidos estão em estado de sobrecarga constante, o cérebro tende a priorizar reações de defesa e sobrevivência, o que reduz a capacidade de empatia e escuta ativa – essenciais para o convívio em grupo.
A presença excessiva de ruído, compromete a concentração, o rendimento acadêmico e o diálogo entre gerações. Crianças criadas em ambientes barulhentos podem apresentar mais dificuldades na aquisição da linguagem, no foco e no autocontrole. Já em espaços de trabalho, ruídos contínuos comprometem a produtividade e a saúde emocional das equipes. O cultivo de ambientes sonoros saudáveis é uma forma de promover convivência mais ética, atenta e empática. O silêncio, nesse contexto, deixa de ser ausência e se torna ferramenta de conexão.
Respostas Emocionais Provocadas pela Música e Nosso Cotidiano
As reações emocionais diante da música são profundamente pessoais, mas seguem certos padrões universais. Melodias maiores e harmônicas tendem a provocar alegria e leveza, enquanto tonalidades menores ou dissonantes evocam introspecção, tristeza ou tensão. Esses efeitos não são apenas psicológicos – são bioquímicos. A música altera o padrão das ondas cerebrais, influencia a respiração, o ritmo cardíaco e até a secreção hormonal. Assim, ela pode ser usada para alterar estados emocionais de maneira rápida e eficaz, com benefícios no humor, na disposição e na criatividade.
Em contextos clínicos, a musicoterapia já é uma prática reconhecida, utilizada em tratamentos para ansiedade, depressão, dores crônicas e até demência. A música pode acessar memórias afetivas de forma não verbal, funcionando como uma “chave” para emoções bloqueadas. Mesmo sem compreender racionalmente os mecanismos da música, nosso corpo responde a ela com precisão quase instintiva. Por isso, é essencial cuidar do que ouvimos: trilhas sonoras escolhidas com intenção podem promover conforto emocional, alívio de tensões e estados de paz interior que favorecem a saúde integral.
Vivemos em uma era de abundância sonora, onde estamos permanentemente cercados por estímulos auditivos – nem sempre conscientes. Trata-se de um convite à escuta atenta, à escolha consciente do que permitimos ressoar em nossa mente e corpo. Os sons que escolhemos podem ser aliados na construção de uma vida mais equilibrada, enquanto os ruídos desorganizados – principalmente os que toleramos por hábito – podem se tornar agentes silenciosos de desgaste físico e emocional.
Convido você, leitor do Balaio do Leollo, a iniciar uma jornada de percepção auditiva. Observe seu entorno: que sons te elevam? Quais te esgotam? Que músicas ajudam você a se reconectar com seu centro? As vezes o que nos faz bem, não é a música da moda (da trend), é sim aquela que nos acolhe em ritmo e volume.
Criar um cotidiano mais sonoro – e menos ruidoso – não exige isolamento, mas sim presença. Estar consciente do que ouvimos é um passo importante para construir um ambiente mais harmônico e saudável, dentro e fora de nós. Afinal, somos também feitos de vibração. E a escolha do que vibra à nossa volta é, cada vez mais, um gesto de cuidado.
Vida longa ao som bom (em um bom som).