Tive a grata experiência de transitar por entre os bastidores do show que é a vida de Ney Matogrosso. A exposição que ocupa o primeiro andar do MIS (Museu da Imagem e do Som – Jardim Europa – São Paulo) e que tem data prevista de encerramento em 21.abril.2025 – corram para contemplar. Um tempo por entre a coxia desse ser vivo que é um espetáculo até mesmo fora dos palcos.
Ao chegar, somos convidados a transitar entre paredes feitas de compensado (uma referência aos bastidores) e labirintos de voal (uma referência aos palcos), que nos traduz essa carreira repleta de acontecimentos históricos e também nos mostra fatos inusitados. Um brinde à genialidade dele ao se entregar à arte dos palcos com toda sua força primal. Passamos a acessar histórias peculiares e por vezes impetuosas, de como Ney forjou seu caminhar sobre um talento vocal icônico e uma tremenda consciência de sua expressão corporal.
No espaço está exposto um rico arquivo fotográfico e um vasto acervo de figurinos de suas apresentações nos palcos e clipes. Além de acessórios, adornos, partes de cenários, projeções de videoclipes e as tantas capas de seus trabalhos em LPs, CDs e DVDs. Há uma sala dedicada ao material de gravação do filme “Homem Com H”, que está em fase de produção – ali vemos o caderno de roteiro e outros detalhes do planejamento dessa obra audiovisual que tem Jesuíta Barbosa na figura de Ney. Ah, tem também, numa coluna que pode até passar despercebida, uma tela com fone de ouvido, onde está imortalizado a paródia que o grupo Secos & Molhados fez da música “O Vira”, para vender o anúncio de televisão da empresa D.D.Drin (uma dedetizadora paulista famosa nos anos 70).
Numa inteligente disposição do material separado por décadas, conseguimos viajar entre as várias etapas que formam a trajetória de Ney de Souza Pereira, nascido em 01 de agosto de 1941, na cidade de Bela Vista – Mato Grosso do Sul. A explosão do nascimento do irretocável trio Secos & Molhados no ano de 1973. O início da carreira solo em 1975. Abertura do Rock in Rio em 1985. Passa pelos tantos trabalhos onde brindou sua voz na experimentação e profissionalismo ímpar. Até chegar à turnê lançada já no pós pandemia, onde aos seus 83 anos ele sobe ao palco para realizar o maior espetáculo já feito por ele com uma plateia de 45 mil pessoas.
Ao visitar essa exposição, fica posto que:
“Ney saiu da casa dos pais aos dezessete anos, sem sonhos e nem obsessões. Envolveu-se com teatro ainda jovem e deslumbrou-se pelas luzes do espetáculo, mas seria feliz mesmo se vivesse na mata ao lado dos animais ou fizesse artesanatos de miçangas para vender nos calçadões do Rio. Certo dia, ele cantou qualquer coisa para passar o tempo, e sua voz abriu um portal. Dois rapazes convidaram-no para formar um grupo de rock, e as rádios começaram a tocar as canções que ele cantava. TVs procuraram-no para entrevistas, gravadoras trouxeram projetos ambiciosos e estádios lotaram para vê-lo em ação. Quando percebeu, milhares de homens e mulheres desejavam-no por algo que jamais imaginou se tornar: um popstar.”
Nessa viagem informacional, temos acesso a um conjunto de projetos e parcerias que firmaram sua presença na história do Brasil e na história da música mundial. Com todo seu arrojo em flertar com seu público de maneira sensual, para justamente sentirmos toda sua potência artística. Como um eloquente furacão musical, Ney Matogrosso destrói o antigo e põe a prova o olhar para o futuro (o nosso futuro). Ney desde sua infância, chegando à sua maturidade profissional, declama amor e fúria por onde passa. Leveza e conduta fortalecem sua voz. Mas é nos palcos que tudo isso lhe parece fazer sentido. Sua liberdade sempre lhe foi vital e disso nunca fará negociação.
E só para deixar claro, que nesse puteiro todo chamado vida, sem dúvida nenhuma quem ainda manda em tudo, é Ney Matogrosso. Corre lá nessa exposição para vê-lo e aplaudi-lo.
Vida longa ao som bom (em um bom som).