Se você está com os ouvidos prontos para uma travessia musical feita com afeto, ritmo e descobertas, vem comigo nessa nova edição do Explorando Sonoridades – chegamos a edição nr.10. Preparei uma playlist que pulsa diversidade, originalidade e beleza em cada faixa escolhida. São artistas de diferentes origens e estéticas, mas todos conectados por um fio invisível de sensibilidade e potência criativa.
Reuni esses seis artistas e sobre cada um deles, o meu desafio é indicar uma faixa que melhor expresse a alma destas obras. Antes de mergulhar nas palavras, dá o play nesse jukebox que criei no Spotify para você clicar antes de ler o texto: Explorando Sonoridades 10 – 16.05.2025 – essa playlist é sua porta de entrada para essa viagem de sentidos.
1)- Artista: Chico Chico – Single: Eu Nem Ligo (2021)
Eu o conheci pela faixa “Ninguém” (parceria com o músico Fran), sem saber que era Chicão, filho de Cassia Eller. O bacana foi não ter a influência nepo baby para me confundir. Cada faixa chegava e me ganhava tranquilamente. Amei a participação dele com Toni Platão no projeto ao vivo “O Amor Segundo Herbert Vianna”, com a canção “Ela Disse Adeus” que segue uma levada rock jovem guarda deliciosa, com um canto levemente debochado.
Mas trago para essa playlist de hoje, um olhar especial para a canção “Eu Nem Ligo” (2021), pois ali saquei a real influência que ele recebeu das parcerias que vem costurando desde que começou esse ofício de artista – “Eu Nem Ligo” é letra de Gonzaguinha (1976), ressurge com uma ferocidade entre a mãe Cassia e o irretocável Ney Matogrosso – “Cantar é mover o dom”.
2)- Artista: Gabriel Moura – Álbum: Quem Não Se Mexer Vai Dançar (2017)
Mais uma grata surpresa da cartela de cores da música brasileira. Temos tantos talentos que fica difícil acompanhar suas trajetórias. Gabriel Moura é cantor, compositor, produtor musical e diretor de teatro. Ele é um dos fundadores da banda Farofa Carioca, onde seu Jorge teve sua participação inigualável e se tornou um dos maiores parceiros de Gabriel – Mina do Condomínio, Burguesinha, Felicidade, entre outros sucessos. Moura também assina parcerias com Milton Nascimento, Elza Soares, Lenine, Alceu Valença, Paula Lima, Iza, Sergio Mendes e Bebel Gilberto – o cara é um fera reconhecidíssimo.
Com essa responsa toda, cheguei no álbum que indico aqui. Nesse projeto Gabriel me encantou com a canção “O Amor É In” que está na playlist – “O amor tá na moda / O amor é in / É uma mão na roda / É tão bom pra mim”. Uma levada sem pretensões mesopotâmicas e por isso, me transportou para um canto mais íntimo à dois; como um passeio de mãos dadas na beira da praia ou como uma viagem longa de carro com meu parceiro de vida.
No álbum traz também “Dengo, Cafuné, Chamego” (parceria com Mart’nália) que é um samba bem arquitetado para ser simples e por isso, um sublime tempo musical. Abrindo o projeto está “Quem não se mexer vai dançar”, que dá nome ao disco e instiga o corpo num funk-disco-club genial, com um naipe de instrumentos de sopro delicioso – “Essa é para pegar pelo pé / Tudo mundo vai balançar / Pode acreditar, levar fé / Quem não se mexer vai dançar”.
3)- Artista: Tato – Single: Dançar (2025)
Tato é natural de Olinda, o que forma na minha cabeça um selo de qualidade ancestral que tenho com a arte que é esculpida em PE – sem vem de lá, tem grande chance de me ganhar os ouvidos. Tato é um DJ Produtor que transita pelos estilos Afro House, Organic House, dois ritmos que venho deliciando em audições de pesquisa. Tato forma trabalhos muito bem definidos por um lindo estilo de construção melódica e uma força vibracional das melhores que tenho ouvido.
A faixa que indico é “Dançar”, uma mensagem sobre liberdade. Esse single é para ouvir sozinho e dançar pela sala ou cozinha. Mas também mentalizo uma pista de dança ampla e repleta de gente autêntica e moderna, que aproveita esse ritmo feito para embalar nosso corpo sem amarras – “Dançar até o fim da noite / Dançar até o fim do Mundo / Dançar perto, dançar junto / Dançar até o fim do Mundo”. Deliciante e sem histeria, do jeito que eu tô precisando.
4)- Artista: Sandra Bernardo – Álbum: Es El Momento (2022)
Essa madrilenha carrega ritmo, cadência e muita força nas obras que ela expõe para quem quiser abrir o coração (e os ouvidos). Sua musicalidade brinca com genialidade e instrumentais ensolarados. Uma beleza para meus ouvidos.
Tem mensagem além de tudo. Desde de que ouvi o grupo Chambao, lá nos idos de 2006, não tinha me conectado com uma ritmada deliciosa que é a faixa que indico: “Universo Eterno” – “Uma viagem pelo tempo / Que nasce no mar / É o eco do vento que vem e vai” – minha tradução livre, pois ela tem um espanhol claro que me facilita acompanhar os temas e mergulhar nessa aquarela sonora de seus trabalhos.
Experimente neste álbum as faixas: “El Amor”, “Darte De Mí”, “Mediterráneo”. Esse rico álbum é parceria mais que memorável com o produtor El Búho, que é inglês de nascença, mas se mudou para uma floresta aqui na América Latina. Dalí explora sons na natureza, ritmos mitológicos e melodias deste imenso continente multicultural.
Os trabalhos de Sandra aparecem com o álbum “Gardenia”, um EP com três canções muito caprichadas para expressar os ares do Mar Mediterrâneo, mais exato o arquipélago Ilhas Baleares – que é um pedaço muito especial deste mundão, viu Sebastião!
5)- Artista: Yan Cloud – Álbum: Afrossa (2024)
Por falar em selo de qualidade ancestral, tem a Bahia para garantir que vai ter do bom e do melhor. Lançado ano passado, o álbum “Afrossa” transborda sedução sonora e me “xapô o coco” de um jeito, que estou ainda nesse namoro auditivo. Tem uma maneira muito peculiar de associar baianidade, ancestralidade percussiva, à uma ritmada mais quebrada do funk. A faixa que indico é “Mexe”, uma levada que contamina o corpo e nos convida à dançar – fruto da parceria com o músico produtor Zamba. Fez meu queixo cair quando ouvi, principalmente por ter sido apresentada por alguém que foi contaminado primeiro, meu amiigo Augustus – ouvimos no repeat juntos, daí já viu, foi para minha playlist, pesquisei sobre Yan e passei a curtir sem neuras e pré-conceitos.
Achei que esse projeto é uma construção revolucionária. Me mostrou um jeito tão genial para conjugar funk de uma maneira iluminada, com letras fortes em mensagem, mas com uma preocupação em criar um resultado muito cativante. Experimente também as parcerias nas faixas “Nêga” (Rachel Reis), “Tenta” (Larissa Luz), “Ofegante” (Melly) e a que fecha o álbum “Desmonta” (Lazzo Matumbi). Vem mexer, que é só o começo.
6)- Artista: Carla Morrison – Álbum: Amor Supremo / Desnudo (2017)
Encerro essa playlist com uma doçura vocal, resultado da cultura ancestral mexicana – “Viva à América Latina unida pela música”. Carla Morrison tem uma voz segura e delicada ao mesmo tempo; daí associar a uma sonoridade doce. Já foi reconhecida com premiação no Grammy Latino pelo álbum “Déjeme Llorar” (2012), mas a canção “Te Regalo” é a que indico na playlist, escolhido do álbum “Amor Supremo” lançado em 2017 – uma canção voz e piano, lindamente construída, que me acertou o coração com uma força apaixonante – “Vou te amar até morrer”, sem dúvida.
O álbum merece sua visita para sentir mais nuances desta voz de anjo, acompanhada de arranjos limpos e delicados (piano, violão e sons percussivos suaves). Tente as faixas “Um Beso”, “Azúcar Morena”, “No Vuelvo Jamás”, “Mi Secreto” e “Tú Atacas” – seu ouvido vai verter mel. Se sentir uma vontade de suspirar, suspire feliz, pois a beleza te contagiou. E isso pode ser lindo de sentir.
De um rock debochado que homenageia Gonzaguinha à doçura ancestral da música mexicana, passando por batidas eletrônicas que libertam o corpo, sambas que acariciam, experimentações sonoras à beira do Mediterrâneo e uma Bahia que dança com o futuro — cada artista aqui carrega um brilho único e necessário. O convite é claro: ouça com o coração aberto, deixe os pés balançarem se quiser, e permita-se ser tocado por essas obras que dançam entre o íntimo e o coletivo. Porque música boa, quando compartilhada, vira memória feliz. E disso o Balaio entende.
Vida longa ao som bom (em um bom som).