Minhas horas de pista são extensas e repletas de acertos sonoros. Mas não deixo de lamentar as festas medíocres que vivenciei. Saber diferenciá-las me é saudável e libertador. Pensando nisso, resolvi colocar aqui um conceito que carrego comigo já há tempos, porém não tinha onde falar sobre. Sinto que essa hora chegou e vou apresentar a minha proposta de como construir uma pista de dança inesquecível.
A pista de dança não é apenas um espaço de movimento. Ela é um organismo vivo, pulsante, um campo de energia coletiva onde a música se torna linguagem e o público, um só corpo. Para que essa conexão se dê da forma mais intensa e libertadora possível, alguns elementos precisam estar em harmonia. A iluminação não pode ser invasiva, mas precisa estimular. O espaço deve permitir fluidez, mas também sugerir aconchego. O DJ, por sua vez, é um mestre de cerimônias da vibração, conduzindo o público para um ritual que transcende a simples audição.
Quando falo sobre a construção de uma pista inesquecível, tenho minha própria narrativa sobre o tema. Penso basicamente quatro capítulos de um enredo sensorial. Não basta soltar o play – é preciso arquitetar um percurso, entender o tempo e a pulsação coletiva. A progressão sonora deve ser intuitiva, mas carregada de intenção, guiando os corpos por uma jornada que começa com um convite, se expande em êxtase e, por fim, dissolve-se em pura entrega.
Quatro passos até o inesquecível:
1)- Abertura: 90% do que ouviremos serão de clássicos dançantes e com bom humor no astral + 10% de sucessos recentes não tão vigorosos = esse 100% não contém histeria. A pista precisa de um convite. A atmosfera deve abraçar quem chega, sem atropelar. Essa fase inicial define o tom da noite e estabelece a confiança do público no que virá a seguir. O bom DJ sabe que aqui não se impõe ritmo, mas se insinua possibilidades.
2)- Meio tempo: 65% de clássicos revisitados em batidas e estilo, com orientação um tanto apoteótica + 35% material autoral e relíquias da música = esse 100% formará um cenário mais maduro e chic, pois devemos acreditar que o público merece. A pista já está quente, os corpos entendem o fluxo e se entregam à cadência. Aqui, a sinergia entre DJ e público atinge um patamar elevado. Cada batida tem peso, cada drop deve ser um afago ou um amasso. É nesse momento que se planta a semente da memória – o que ficará marcado na mente dos presentes como o auge da noite.
3)- Primeira parte do fim (seja o que O DeusSom quiser): 45% dentre o que foi tocado até então + 55% entre novidades que não são sucessos ainda, mas o DJ nos ensina o futuro = esse 100% tem menos compromisso com padrões, mas não deve nunca desmerecer o público com musicalidade fácil e chula. Este é o ponto de virada. O público já foi conduzido por um caminho seguro, agora está pronto para saltar sem redes. A surpresa é essencial. O inusitado deve surgir de forma orgânica, sem choques abruptos, mas com a capacidade de despertar e provocar. Os mais atentos percebem que algo está mudando e se entregam a esse fluxo.
4)- Segunda parte do fim (quem viveu até aqui, tem chance de chegar no fim): sem percentual para nada, valerá a melhor adaptação de tudo que poderia ser tocado, mas agora invertendo a ordem construtiva. Momento em que a expansão de energia humana é notória e vemos um tipo de liberdade do corpo e uma fluência vibracional em ressonância com todo o recinto. Claro, se a pista teve a moral de partilhar esse ritual extracorpóreo que chega no individual, atravessa os poros até o núcleo celular. Nesse tempo, o espaço da pista se torna um experimento coletivo. Quem ficou, está ali por escolha. Quem ainda dança, se move sem amarras. As regras foram ensinadas e agora podem ser subvertidas. A pista atinge seu estado máximo de transcendência, um verdadeiro portal de sensações.
Ao final, somos colocados à prova sobre nosso condicionamento mental e físico, que, se positivo, nos leva embora melhores do que quando chegamos. Muita gente fica pelo caminho, sai avariada ou carregada, levando junto sequelas morais e cicatrizes no ego. Calma, você pode tentar fazer melhor na próxima semana; não desista.
E quem quiser que conte outra.
Não podia ficar apenas na minha opinião. Então, recolhi entre amigos a seguinte enquete: O que faz uma pista de dança inesquecível? A seguir, deixo publicado a sequência de respostas que me foram devolvidas até o momento da finalização desse artigo:
- A música em sintonia com a minha mente e alma, o som com maestria e a Vossa Companhia de Corpo Presente, a pista fica muito mais elegante na companhia dos amigos. – Gilmar P.
- A sinergia perfeita entre música, pessoas e ambiente. – Rogério C.
- Sem dúvida é ver a pista com amigos e convidados, animada, cheia de energia, adrenalina. Você sente a vibe da galera curtindo o som. É uma sensação de pura adrenalina e realização. – DJ Glaucia
- Um pequeno conjunto de coisas: 1) Um bom DJ (de preferência um produtor da vertente que me agrada); 2) Intervenções no palco, como artistas e iluminação; 3) Pista cheia (Leia “lotada”). – Denis D.
<?php function carregar_scripts_curtidas() { wp_enqueue_script( 'curtidas-js', get_stylesheet_directory_uri() . '/js/curtidas.js', array('jquery'), null, true ); wp_localize_script('curtidas-js', 'ajax_object', array('ajaxurl' => admin_url('admin-ajax.php'))); } add_action('wp_enqueue_scripts', 'carregar_scripts_curtidas');
- Quando tem a música que a gente gosta, ué? Mas requer um pacote de coisas. Ainda tem a iluminação, qualidade sonora, espaço adequado, ocasião, amigos. – Alê M.
- A pista precisa ter uma energia que me faça sair de casa e querer viver aquele momento. A iluminação e o design do espaço devem ser pensados para criar uma experiência imersiva, sem deixar ninguém de fora, dando liberdade para todo mundo dançar e ser quem é. – Tomaz F.
- A imprevisibilidade, grandes hits que vamos cantar na ponta língua, e melodias com cadência. – Marcelo L.
- Um bom DJ. – Ana Paula J.
- A Energia de cada pessoa, ao DJ mixar de uma música para outra. A passagem de uma música para a outra, cria uma energia que arranca gritos da Pista, sendo assim, se torna inesquecível!! – DJ Alessandro S.
- Boa música. Boa iluminação. Boa colocação. – Valcir M.
Agradeço a cada pessoa que me retornou com sua opinião para criarmos esse momento coletivo em algo mais brilhante, elegante e necessário. Porque uma pista de dança inesquecível não é só dançar. É transformar.
Vida longa ao som bom (em um bom som)
Leollo Lanzone